data-filename="retriever" style="width: 100%;">O Dicionário da Língua Portuguesa do Mirador Internacional, publicada pela Encyclopaedia Brittanica, na página 1383 de sua edição do ano 1979, quase em prolegômenos, explica tratar-se o termo empregado no título do presente de "conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados" e, claro, aprofunda, a seguir, para além da generalidade introdutiva.
Mesmo as elucidações contemporâneas àquele ano, por si, se adequam nitidamente à conotação atual pois, imutáveis e, por pior, ainda atuais, quando não, asseveradas. Isto, pois, desgraçadamente, vê-se que, após tanto tempo, o que deveria ser uma autópsia vocabular a propósito de termo desejavelmente já falecido, redunda em exame sobre organismo ainda vívido. E, desde então, ou mesmo antes, ainda em evolução.
Ora, continuada a leitura do quase alfarrábio, se verá lá o arrolamento de exemplos aplicáveis ao termo, então resumidos aos preconceitos racial, religioso e de classe, certamente os em voga naquele momento, ou em mais destaque.
Ocorre que, tal qual o agente patológico que hoje assola o planeta, também o deletério costume de pré, assim entendido o prefixo como antes, no caso, de efetivamente conhecer algo, já o definir, só fez alcançar outras searas da realidade social, acrescendo variantes como o sexual, o ideológico, o de nacionalidade, o econômico e outros que até nem consigo listar.
Tantos e tanto, inúmeros e tão contundentes, que os próprios foram e são, cada vez mais, os fomentadores das retaliações coletivas pelos grupos vitimados, sobremaneira pelas conquistas legislativas mundo afora que, mesmo ainda parcas, são sintomas de mínima evolução civilizatória.
Neste contexto, me parece importantíssimo que todos se abstenham de alimentar, propiciar, que novas variantes preconceituosas sejam ensejadas e surgidas.
E o faço sugerindo, até mesmo rechaçando, uma natureza específica de preconceito: o preconceito aos preconceituosos.
Explico: assim como a nefasta e ineficaz filosofia (se é que assim pode ser designada) que diz que bandido bom é bandido morto, mesmo todos sabendo tratarem-se, inúmeros deles, de seres humanos que necessitam de reabilitação decente ao que o estado deveria atender para a retomada ou princípio de convivo social minimamente sadio, também assim o são os indivíduos preconceituosos a respeito daqueles listados pela enciclopédia atávica e por mim neste textinho.
Eles, os preconceituosos, assim como os ordinariamente qualificados como bandidos são, em verdade, pessoas carentes de educação, instrução, aculturamento, o que lhes faz tão indesejados e inclusive perigosos à harmonia social e ao respeito humano. Os primeiros, como os segundos, necessitam de estruturas de conscientização e demonstração de que há, sim, possibilidades de melhor desenvolvimento íntimo e pessoal, e por consequência coletivo, fora da criminalidade, haja vista a criminalização de suas atitudes.
Certamente, se tratam de homens e mulheres que não tiveram a melhor atenção familiar, ou aquela ideal e desejada na senda da construção de uma sociedade justa, respeitosa, democrática e pacífica.
Não ter preconceito para com os preconceituosos significa trazê-los ao nosso patamar intelectual, cultural, psicológico, moral, dever de quem se encontra em situação privilegiada diante desses que não dispõe dos atributos de sanidade mental e aquilatamento intelectual. Enfim, odiar o pecado e amar o pecador, nas diretrizes cristãs.
Para extinguir os ignorantes com quem somos obrigados a conviver, o alvo correto é o combate à ignorância.